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Olá amigos produtores seguidores do blog da JetBov!
No nosso post de hoje, vamos contar uma história: Manoel é um pecuarista que há décadas segue os ensinamentos passados de geração para geração. Sua fazenda foi herdada do pai, que foi herdada do avô, que foi herdada do seu bisavô, quem abriu a pastagem.
Manoel aprendeu com o pai (que, por sua vez, também aprendeu com o pai dele), que o fogo é uma ferramenta “fácil” e barata para se eliminar a macega do pasto. Parece ser uma ótima ideia, pois assim que o capim é queimado, logo já aparecem brotos. Manoel sabe que está cometendo um crime ambiental, mas sabe também que é muito difícil que um órgão fiscalizador autuá-lo, ou até mesmo identificá-lo como autor do crime caso a queimada saia de controle e se espalhe. Ele mantém essa prática pelo simples fato de ser uma prática barata.
Mas será que é mesmo?
Apesar de sim, a probabilidade de ser autuado ou identificado como autor do crime ser muito baixa, ela não é nula. Então caso isso venha a acontecer (e acontece, como podemos ver em pesquisas do Google), por si só é um risco que financeiramente inviabiliza a prática.
Mas, mesmo que isso não ocorra, mesmo que Manoel não seja autuado e que não tenha nenhum problema com nenhum órgão fiscalizador pela prática de atear fogo no pasto, a conta que ele está fazendo pode não estar tão correta assim.
Entendendo o processo biológico pós-queimada
Ao passar pelo processo de queimada, a planta não morre, apenas perde boa parte de seu caule e a totalidade das folhas, mantendo as raízes. Como o capim está baixo, o broto remanescente recebe luz solar em abundância, o que estimula a brotação de novos perfilhos. Então Manoel, vendo os novos brotos surgirem, acredita que está fazendo um ótimo negócio.
O revés dessa prática é que quando o fogo queima toda a macega, o solo é aquecido, fazendo volatizar grandes quantidades de enxofre e nitrogênio, eliminando esses nutrientes, junto com outros microorganismos importantíssimos para o desenvolvimento das plantas, como as bactérias fixadoras de nitrogênio e bactérias decompositoras de matéria orgânica.
Falando de forma bem objetiva: o nitrogênio – presente na uréia, no sulfato de amônio, no nitrato de amônio, aquele grande responsável pelo bom desenvolvimento do pasto, e que diretamente será responsável pelo ganho de peso dos animais (ou seja, o que está diretamente relacionado ao lucro da sua propriedade!) – e as bactérias responsáveis pela reciclagem e fixação desse nitrogênio, estão sendo eliminados do solo.
Essas são perdas que degradam profundamente o solo, e que são necessários anos e anos para que se recupere.
Imagem: Amazonia.org
E o pior: as cinzas levantadas pela queimada – que ainda contém alguns nutrientes – são levadas para longe pela ação do vento. Ou seja, Manoel está degradando seu solo, e ainda por cima adubando o solo dos pecuaristas vizinhos.
Mas Manoel é esperto. para evitar que as cinzas se desloquem até as terras vizinhas, e pensando em regar os brotos que surgem pós-queimada, ele busca fazer as queimadas próximo da fase de chuvas. Dessa forma, os brotos vão receber água, e as cinzas que seriam lançadas ao ar e carregadas pelo vento seriam fixadas ao solo com o auxílio da água da chuva, pensa ele.
O que Manoel não sabe é que o resultado não vai ser bem assim. É muito comum que antes da chuva o vento fique mais intenso. Ou seja, a chuva vai fazer pouca ou nenhuma diferença nesse processo. A diferença que ela irá fazer, na verdade, gera outro problema: ocorrência de erosão.
Imagem: Senar NA
Quando a chuva ocorre em um local onde o capim está crescido, a água não corre tão livremente, pois as plantas no caminho desaceleram essa água. Isso permite mais tempo para o solo absorver a água, evitando a erosão e o assoreamento de rios e de nascentes próximas do pasto.
Será que essa conta fecha?
Tudo isso que relatamos na história acima de fato não vai acontecer em uma única queimada. Mas o Manoel está repetindo o que já era feito pelo pai, pelo avô e pelo bisavô. Ou seja, Manoel está lidando com um solo que já passou por várias e várias queimadas, e mais cedo ou mais tarde irá precisar investir em correção do solo.
Não podemos trazer números precisos aqui, pois cada gleba a ser corrigida terá características únicas: quais nutrientes precisam ser corrigidos, qual é o tamanho da correção necessária, qual é o tipo de solo, são características que afetam diretamente no custo da correção do solo. Mas o que podemos afirmar é que não será um processo barato.
E caso o solo venha a apresentar erosão e seja necessária uma ação de restauração, o custo será ainda mais elevado. Tão elevado que a maioria dos produtores declaram as porções de solo erodido como perdidas, pois não compensa financeiramente investir na recuperação delas.
Se você leu até aqui, percebeu que nem falamos nos impactos ambientais trazidos por essa prática, que infelizmente ainda é muito disseminada na pecuária de corte brasileira. Estamos querendo mostrar para você que, se você se preocupa com as finanças da sua fazenda, a queimada também não é uma boa ideia.
Esperamos ter ajudado você a deixar para trás essa prática ultrapassada, e convidamos você a continuar acompanhando o blog da JetBov, onde sempre estamos trazendo mais dicas e mais informações que irão auxiliar você a ter uma fazenda muito mais produtiva e rentável!