Diferimento de pastagens para alimentação do rebanho durante estiagem

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Existem várias formas de garantir que seu rebanho receba alimentos durante os períodos de seca, que atingem algumas regiões do Brasil. Mas o diferimento de pastagens é um dos mais vantajosos, pois é um sistema barato e fácil de ser adotado pelo pecuarista*.
O diferimento de pastagens, também conhecido como vedação ou produção de feno em pé, é um sistema no qual os animais são excluídos do pasto, deixando o capim em crescimento livre. Nesse tempo, o capim acumula massa de forragem, que vai servir como alimento ao seu rebanho na época de seca.
Esse sistema é utilizado por técnicos e pecuaristas para que se alcance um equilíbrio entre o excesso de pastagem no período das águas e a falta dela no período seco do ano. Ou seja, no período das águas, o pasto cresce a todo vapor, enquanto que na seca, quase não possui crescimento.
Mas o diferimento de pastagens também tem um lado negativo: a alta concentração de colmos (talos) na estrutura do pasto, deixando-o com um pior valor nutritivo. Mas combinando o pasto diferido com uma suplementação, seu rebanho poderá ter ganhos durante todo o período de seca.
Abaixo, confira no gráfico** o esquema da disponibilidade x qualidade da forragem ao longo do ano, e a demanda do animal:

O que deve ser levado em consideração para fazer o diferimento de pastagens?

Primeiramente, você deve conhecer as características do seu capim. Os mais recomendados para adoção do diferimento são principalmente os pastos do gênero Brachiaria (Braquiarinha e Braquiarão), e do gênero Cynodon (Coastcross e Tifton 85).
Em compensação, os do gênero Panicum não são recomendados por serem de maior porte, uma vez que têm alta concentração de colmos em sua estrutura. A exceção é o capim Tanzânia, que pode ser utilizado para realização da técnica.

Outro fator a ser considerado é seu objetivo com o diferimento. Caso seu foco seja estocar a maior quantidade possível de massa de forragem, deve-se deixar o pasto vedado por mais tempo. No entanto, fazendo isso ele poderá perder valor nutritivo. Já se seu objetivo for uma melhor qualidade de volumoso, recomenda-se um menor período de diferimento. Porém, com tempo menor não haverá acúmulo tão expressivo de massa de forragem.
Além disso, caso você queira ter um alimento com melhor qualidade, sem deixar o acúmulo de massa de lado, há outra estratégia eficaz. Trata-se do diferimento escalonado.
No diferimento escalonado, ao invés de se realizar a vedação em uma área total por mais tempo, é feita a vedação de partes menores em tempos distintos. Dessa forma você também poderá colocar seus animais em épocas diferentes para consumirem a pastagem, evitando assim uma grande perda de valor nutritivo do pasto.

Adubação nitrogenada, por que fazer?

A adubação nitrogenada auxilia no diferimento, podendo se fazer a vedação de forma mais tardia. Isso ocorre porque o pasto adubado tem um crescimento mais acelerado quando comparado a outro pasto não adubado. Com isso, você, pecuarista, pode aproveitar ainda mais a pastagem na época das águas e, de quebra, acumular maior quantidade de forragem na época da seca.
Outra vantagem da aplicação de nitrogênio é o aumento da massa foliar do pasto, sendo de grande importância no diferimento, pois em muitas das vezes o pasto apresenta uma menor relação folha/colmo, podendo aumentar assim o valor nutritivo e a digestibilidade da gramínea.

Qual o procedimento e dicas para realização da vedação do meu pasto?

Para se realizar a vedação do seu pasto você precisa ter piquetes na fazenda, ou ter uma outra forma de isolar a entrada de animais em determinada área da pastagem.
Após o isolamento da área, deve-se seguir alguns manejos que busquem melhorar a qualidade e a quantidade de massa de forragem estocada.
Antes de se realizar o diferimento, é de grande importância realizar o rebaixamento do capim na área a ser diferida, sendo recomendado o aumento na taxa de lotação. Com isso, o poder de rebrota do capim irá aumentar, incentivando o perfilhamento e removendo o material morto.
O diferimento deve ser realizado no fim do período das águas. Dessa forma, se aproveita o resto das chuvas do período, garantindo um bom crescimento do capim. Caso você queira acumular muita massa e começar a vedação mais cedo, você deve ficar de olho na altura de seu pasto durante a vedação, pois se as plantas crescerem demais pode ocorrer o tombamento do material, criando as chamadas “macegas”, que não são consumidas pelo animal.
A respeito de área a ser vedada, a recomendação é que se vede a área em cerca 20 a 40% da propriedade. Porém, para maior precisão, podem ser realizados cálculos específicos de acordo com a necessidade de sua fazenda.

Devo suplementar meus animais com o pasto diferido?

Sim. Embora o pasto diferido tenha uma boa porcentagem de matéria seca (MS), ele apresenta uma menor concentração de proteína em sua estrutura, sendo necessário a suplementação.
A suplementação deve ser a mesma do período seco, no qual se utiliza a suplementação com alimentos proteicos para corrigir a deficiência existente no capim diferido. Sempre levando em consideração a categoria dos animais de sua propriedade, o preço de compra do produto, dentre outros fatores.

É possível garantir ganhos satisfatórios na seca?

Sem sombra de dúvidas, com a união de  boas técnicas e bom manejo da pastagem é possível ter ganhos relativamente satisfatórios no período da seca.
O diferimento é uma técnica que pode compensar o excesso de pasto no período das águas com a falta de pasto no período da seca.É uma estratégia barata e de fácil adoção pelo pecuarista.
Caso se realize a adubação e a suplementação correta dos animais no período, pode-se alcançar excelentes resultados zootécnicos, gerando um maior retorno econômico e rentabilidade da atividade.
Depois dessas dicas, você pecuarista já está pronto para realizar o diferimento, para a próxima estação seca?

Referências:

*EUCLIDES, V. P. B. et al. Diferimento de pastos de braquiária cultivares Basilisk e Marandu, na região do Cerrado. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 42, n.2, p. 273-280, 2007.

**Gráfico: Fonte Coan Consultoria

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