Como implementar a ILPF na minha fazenda?

Tempo de leitura: 8 minutos

A ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta) traz inúmeras vantagens ao produtor, como a possibilidade de recuperar uma área degradada de sua propriedade e ainda ter um rendimento com isso, através da venda dos grãos produzidos na parte da lavoura dessa tal integração; o conforto térmico aos animais pela sombra proporcionada, diminuindo o gasto energético ao tentar resfriar seu corpo constantemente, fazendo com que comam mais e ganhem mais peso por dia; a diminuição na emissão de gases de efeito estufa por conta de uma pastagem melhor manejada, e por conta do sequestro de carbono feito pelas árvores presentes no sistema, o que pode agregar mais valor para a carne vendida. Isso sem falar da possibilidade de se usar linhas de créditos do governo para implantação desse sistema e pelo pagamento por serviços ambientais prestados. 

Como é feito o plantio das árvores na ILPF?

Na ILPF o plantio de árvores é feito em fileiras normalmente com espaçamentos de 1,5m ou 3m entre si, na mesma linha e com o espaçamento de 18m entre as linhas de árvores. Quando se usa o espaçamento de 1,5m entre as árvores se tem a intenção de com 5 anos realizar o corte de metade das árvores, sendo esse corte realizado com o padrão uma árvore sim e outra não dentro da fileira de árvores, deixando assim o espaçamento de 3m entre as árvores da mesma fileira. Desse modo o produtor já tem um lucro com a venda dessas madeiras nos primeiros 5 anos do sistema.

Fonte da foto: John Deere Journal

E como é a implantação do sistema?

Existem várias maneiras de se introduzir esse sistema, sendo por etapas ou tudo de uma vez, lembrando que se for realizado a introdução de uma vez, o produtor não conseguirá realizar pastejo nessa área por dois anos, será possível apenas ter lavoura nesse tempo, por isso vamos abordar o método de introdução gradual que nos permite a formação de um ciclo, que traz uma boa rotatividade e maior produtividade dentro do sistema.

Para isso o produtor deverá dividir sua área que será implantado o ILPF em 12 partes, começando a implantação pela área mais degradada, nessa área o produtor irá corrigir a fertilidade através de análise de solo, com ajuda de um profissional da área. Após isto, deve realizar o plantio das árvores no espaçamento de 1,5m ou 3m entre as árvores na mesma linha e com espaçamentos entre as linhas de 18m, e depois plantar o milho entre as linhas de árvores. Enquanto isso, o gado continua o pastejo nas áreas sem árvores, ou seja, nas outras divisões que aguardam ainda a implantação do ILPF. Dessa forma, com a colheita do milho que foi plantado entre as linhas de árvores, o produtor já obtém o retorno do investimento gasto com a recuperação da fertilidade dessa área, mas o produtor ainda vai plantar milho nessa área no próximo ano, o pasto só receberá animais no final da colheita do milho no segundo ano de implantação da área. No segundo ano de implantação o produtor já pode realizar o plantio dos eucaliptos e do milho na segunda divisão do ILPF, e plantar o milho consorciado com alguma forrageira na primeira divisão do ILPF, de forma que quando se colher o milho na altura de 60cm para cima, já se entre com um gado mais leve nessa área que já estará pronta para o pastejo, com a forrageira com uma boa produção devida a adubação que foi realizada no plantio do milho. 

Dessa forma vai se progredindo na implantação do ILPF, de forma que no 3º ano a primeira área já estará com animais mais pesados realizando o pastejo, a segunda área já estará com milho consorciado com forrageira para receber os animais leves depois da colheita do milho, e a terceira área estará sendo corrigida a fertilidade e se iniciando a implantação do ILPF. Deve-se seguir assim, sucessivamente em todas as divisões feitas a cada ano que se passa, até chegar na última divisão. Depois se recomeça tudo de novo a partir da primeira divisão onde já chegou a hora de vender as árvores daquela área.

O ato de se dividir a área em 12 partes é pelo fato de se colher o eucalipto com 12 anos agregando um maior valor a ele e por criar um ciclo dentro da propriedade onde todo ano se tem a venda do milho trazendo um retorno econômico ou utilizando para silagem e ração. 

Além disso, o produtor que escolheu o espaçamento de 1,5m entre árvores, a partir dos 5 anos, irá possuir todo ano a venda de eucaliptos destinados a carvão, mourões, e postes de energia. E a partir dos 12 anos de sistema, irá possuir todo ano a venda de eucaliptos destinados a serraria, que possui um valor agregado maior.

Eucalipto cultivado em sistemas ILPF.
Fonte da foto: Summit Agro

Mas se deve ter cuidado com a escolha do espaçamento de 1,5m, pois o manejo dessa área toda dos 5 anos para frente já exigirá um time operacional maior e o produtor já deve ficar ciente disso, pois irá chegar um ponto que o sistema irá estar entregando todo ano madeira de 5 anos, madeira de 12 anos, milho solteiro, milho consorciado, venda de animais, e entrada de animais, além de no 12º ano já ser necessário voltar para a primeira área, retirar os tocos, e iniciar novamente o ciclo. 

Esse padrão de venda de madeira todos anos com certeza irá agregar um valor maior na venda da madeira por conta da venda constante, assim como sua produtividade irá ir lá em cima por hectare, mas devemos ver nossas limitações e ter ciência se conseguimos mesmo já entrar nesse sistema desse modo tão intensificado, pois é possível também utilizar o espaçamento de 3m e ter venda de madeiras só a partir do 12º ano. Também é possível no segundo ano de implantação da área, ao invés de se plantar o milho consorciado, só plantar a forrageira e esperar ela chegar a altura de entrada, claro que isso poderá diminuir pela metade a receita desse sistema, porém irá estar te treinando para implantar o espaçamento de 1,5m e milho consorciado posteriormente no meio do ciclo ou no próximo ciclo.

Cabe ao produtor avaliar a melhor maneira de se implantar na sua propriedade de acordo com a realidade da sua fazenda.

Quais cuidados o produtor deve tomar ao implementar a ILPF?

Para esse sistema funcionar corretamente alguns cuidados deve ser tomados com cautela, como a boa adubação e correção do solo no momento da implantação, a rotação do gado nessa área para se respeitar as alturas de entrada e saída das forrageiras, para evitar a degradação da pastagem, realizar a adubação de manutenção nas áreas implantadas anteriormente, realizar o plantio das fileiras de árvores no sentido LESTE-OESTE para não ocorrer sombreamento excessivo nas culturas entre as árvores. Em terrenos com relevo acidentados, as fileiras devem ser plantadas em nível para garantir a preservação do solo e com isso o espaçamento entre fileiras vai para aproximadamente 30 m entre linhas de árvores. Sempre deve ser tomado o cuidado de nos primeiros anos de implantação das áreas do ILPF o pastejo ser realizado por animais leves, e respeitar a altura de saída para não prejudicar o estabelecimento da forrageira nessa área.

Mencionamos o eucalipto como a árvore utilizada no ILPF apenas por ser uma árvore de fácil venda e maior uso, mas existem várias árvores possíveis para se utilizar nesse sistema, elas apenas precisam atender alguns requisitos, como: rápido crescimento; boa qualidade de serapilheira (baixa relação Carbono/Nitrogênio); menor interceptação pluviométrica e de luz; folhas finas; copa rala e reduzida, e com fuste longo.

Alguns exemplos:

  • Eucalipto
  • Acácia mangium
  • Acácia negra
  • Bracatinga
  • Grévilea
  • Angico-mirim
  • Angico-vermelho
  • Araucária
  • Amoreira
  • Gliricídia
  • Leucena
  • Pinus
  • Coqueiro
  • Cedro-australiano

E sobre as forrageiras a serem utilizadas existem algumas com melhor adaptação ao sombreamento, são elas:

  • Brachiaria decumbens
  • Marandu
  • Quicuio da Amazônia
  • Colonião
  • Tanzânia
  • Mombaça
  • Aruana
  • Vencedor
  • Buffel
  • Estrela

Sendo a Braquiária decumbens e o capim Marandu os mais recomendados.

É bastante importante que o produtor faça um planejamento antes de implementar o sistema de ILPF dentro da sua propriedade, avaliando a região, o solo, estipulando o perfil e quantidade de animais, entre outros.

Quanto mais fatores o pecuarista conhecer da sua fazenda, menos surpresas terá no futuro. E claro, fazer uso de uma plataforma digital de gestão para pecuária de corte como a JetBov, auxilia nesse monitoramento da propriedade, permitindo a gestão da técnica de ILPF na fazenda.

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1 comentário


  1. Excelente matéria Douglas, temos muitas propriedades que precisam trabalhar com a terra, inclusive degradada, estou pesquisando bastante esse assunto para poder conversar melhor com o proprietário quando for trabalhar a fazenda.

    Obrigado.

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