Você verá nesse artigo:
- Planejamento de produção
- Quantidade de demanda de volumoso (DV):
- Área a ser plantada (AP):
- Escolha da planta
- Milho
- Sorgo
- Cana-de-açúcar
- Milheto
- Soja
- Capim-elefante
- Capins tropicais
- Ponto de colheita da planta a ser utilizada
- Etapas da ensilagem
- Tipos de aditivos
- Aditivos nutricionais/auxiliares de fermentação
- Aditivos estimulantes de fermentação
- Inibidores da fermentação indesejável
- Referências:
Tempo de leitura: 12 minutos
Olá, caros amigos leitores do Blog da JetBov. Hoje iremos abordar um assunto muito importante para o planejamento alimentar da pecuária lucrativa, a ensilagem, processo de conservar a forragem produzida nos períodos de melhores condições climáticas, para poder fornecê-la nas épocas de escassez de alimento na fazenda. Imagino que muitos já conheçam essa prática, mas, hoje iremos falar sobre como planejar melhor esse processo para se obter melhores resultados com essa importante prática.
Um dos objetivos do processo de ensilagem é aumentar a preservação dos nutrientes daquela planta que você cortou com a intenção de utilizá-la nas épocas de escassez de alimento em sua propriedade. Podemos citar como exemplo, a época da seca. Se cortarmos um capim agora e deixarmos ele, mesmo que na sombra, não passará muitas horas até estar seco e ter grandes perdas nutricionais. Assim não possuirá quase nenhum valor nutricional para o animal – uma vez quena ensilagem essa conservação se dá pela redução do PH após a fermentação lática (que se inicia por volta do 5º dia e termina próximo do 30º dia),quando a silagem já está boa para se começar a usar. A silagem pode ser conservada por vários meses se não for aberta ou se não tiver sua vedação rompida.
Planejamento de produção
Para se ter noção do tamanho da área a ser cultivada e apta a produzir forragem suficiente para alimentar todo o seu rebanho pelo tempo de escassez previsto, você precisa levar em consideração alguns dados importantes para o planejamento, como por exemplo:
- Produtividade: 100 t/ha de Matéria verde = 25 t/ha de Matéria seca
- Nº de animas: 80 vacas de 460 kg
- Consumo diário por vaca: 2,5% do peso vivo em MS = 11,5 kg de Matéria seca =46 kg de Matéria Natural
- Período de suplementação: 200 dias
- Perdas: 20%
- Relação volumoso: concentrado= 70:30
Quantidade de demanda de volumoso (DV):
Demanda volumoso = nº de animais X período de suplementação X quantidade de volumoso da dieta.
DV= 80 animais × 200 dias × 32,2kg
DV= 515.200 kg de Materia Verde de Volumoso
+20% de Perdas: 20% de 515.200=103.040kg
515.200+103.040= 618.240 kg de Volumoso
Área a ser plantada (AP):
Área a ser plantada = kg necessário de volumoso/produção de matéria seca por hectare
AP = 618.240 kg de volumoso 100 t/ha de Materia Verde
AP = 6,2 hectares necessários
Escolha da planta
Após o planejamento da área, chega a hora de se pensar na espécie de planta a ser utilizada. É aconselhável a escolha de uma planta com um teor de matéria seca de 28% a 40%, com um teor de carboidratos solúveis de no mínimo 7% na Matéria Seca,ideal de 14% na Matéria Seca, com um baixo poder tampão, que é a capacidade da planta em resistir à mudança de PH.
Milho
Alta ensilabilidade, alto valor nutritivo, produção de MS (Matéria Seca) de 12-18t/há, porém alto custo.
Sorgo
Capacidade de rebrota com até 60% do potencial de produção do 1º corte, produtividade de 15-20t/ha de MS, 90% do valor nutritivo do milho, adaptado a solos menos férteis e clima seco, mais resistente a pragas e doenças, menor custo de produção que o milho.
Cana-de-açúcar
Produtividade de 25-30 t/ha, porém baixa qualidade nutricional, necessidade de aditivos, baixo custo e trato simples, extensa janela de corte.
Milheto
Produtividade de 5t/ha de MS, tolerante ao período seco, possibilidade de mais de um corte.
Soja
Possibilidade de ser feita em consórcio, produção de 5t/ha de MS, ótimo valor nutritivo.
Capim-elefante
Alta Produção por área (30-40t/ha de MS), vários cortes na época da chuva, porém baixo valor nutritivo, necessidade de aditivos.
Capins tropicais
Baixo custo, porém valor nutritivo limitantes, produção de 20-30t/ha de MS.
Ponto de colheita da planta a ser utilizada
O milho tem o ponto de colheita ótimo para se ensilar quando o grão chega ao ponto Farináceo e vai até quando a linha do leite está na metade do grão (linha que divide a fase leitosa e dura do grão do milho, que vai se movendo de cima para baixo), esta é a janela de colheita para a ensilagem. É recomendado a amostragem de 10 espigas por gleba a cada 5-6 dias.
O sorgo tem o ponto de colheita quando o grão no meio da panícula está no ponto Farináceo, a planta do porte médio-baixo tem sua maturação em torno de 90-105 dias, e a planta média-alta em torno de 98-112 dias.
O capim-elefante, devido ao seu baixo valor nutritivo, deve ser colhido novo próximo dos seus 60 dias, porém, devido a sua alta umidade nesse estágio, deve-se eliminar o excesso de umidade da forragem utilizando casca de arroz, ou casca de soja, entre outros aditivos parecidos que sequestram umidade. Recomenda-se a utilização de aditivos químicos para melhorar a qualidade da silagem e diminuir o poder tampão que o capim-elefante possui.
A cana-de-açúcar possui seu corte para ensilagem na mesma época que estaria pronta pra ser picada e distribuída nos cochos, possuindo cultivares de maturação com 1 ano, e 1 ano e meio. A silagem de cana, devido seu baixo valor nutritivo faz necessidade do uso de aditivos químicos.
A soja possui seu ponto de corte para ensilagem no início da fase de enchimento dos grãos, estágio R5 próximo dos 100-110 dias, etapa em que o capim consorciado também estará próximo de sua boa fase nutricional.
O ponto de colheita dos diversos capins tropicais tem seu melhor estágio quando não apresenta florescimento e quando não há morte de folhas na base da touceira. Este é o período em que o capim está em seu melhor valor nutricional Outro ponto importante, é não deixar o capim crescer demais, pois quanto mais velho estiver o capim pior será seu valor nutricional e – devido ao baixo valor de nutrientes e a resistência quanto à mudanças de PH, se faz necessário o uso de aditivos químicos na ensilagem.
Etapas da ensilagem
Existem vários tipos de silos, sendo eles: bag, vertical, superfície (feito de lona, sendo um dos mais utilizados), fardos de filme plástico ou sacos, e trincheira (sendo o mais recomendado devido a sua boa capacidade de compactação).
Após ter conhecimento sobre quais os tipos de silo existentes para a ensilagem, chega a hora da colheita e picagem. Nesta parte do processo, os equipamentos devem estar todos em bom estado e verificados para não ocorrer nenhum problema, como perdas de alimentos por conta de pausas para consertos ou ajustes.
O corte da pastagem deve ser ajustado em partículas no tamanho de 1cm a 1,5cm para a confecção de uma boa silagem. Desta forma, as facas de corte devem ser bem afiadas antes do início. Há uma relação entre o ponto da colheita e o tamanho ideal da partícula,ou seja, quanto mais longo for o estágio de desenvolvimento da planta, menor é o tamanho de partícula.
É possível estimar o cálculo pela Matéria Seca (MS) da planta:
- Menor que 30% de MS: 1,2 cm a 1,6 cm
- 30-35% de MS: 0,8 cm a 1,2 cm
- Maior que 35% de MS: 0,5 cm a 0,8 cm
Para uma boa amostragem das partículas, existe uma ferramenta que pode ser utilizada chamada Penn State, são quatro caixas furadas como peneiras, onde você coloca a amostra de silagem em cima e chacoalha as caixa fazendo as partículas caírem e ir parando em cada repartimento que possui um tamanho de partícula que não passa para baixo. Com isso, é possível obter as porcentagens de cada tamanho de partícula.
Os valores ideais de partículas para uma boa silagem são:
- Na peneira com partículas maiores que 1,9 cm: 3-8% do volume peneirado.
- Na peneira com partícula entre 1,67 cm e 1,9 cm: 45% a 65% do volume.
- Na peneira de 0,8 cm e 1,67 cm: 30% a 40% do volume.
- Na última parte sem furos, com partículas menores de 0,8 cm: em torno de 5% do volume.
Após dimensionar as partículas adequadamente, chega a hora do enchimento do silo. Deve ser colocado palha no fundo caso seja escolhido o silo de superfície. Se for escolhido trincheira ou outro tipo não é necessário esse procedimento. Um cuidado necessário é a compactação da silagem, pois deve ser feito uma boa compactação para se ter uma silagem de boa qualidade. Enquanto estiver sendo depositado silagem no silo, deve-se continuar compactando o alimento. Recomenda-se que a cada camada de 30 cm seja feita a compactação (cerca de 4 minutos de compactação para cada tonelada de forragem depositada), para depois voltar a se depositar mais silagem.
O tempo de compactação não deve ser economizado, pois será ele que determinará as boas condições de conservação da silagem. Quando for ser realizado o uso de aditivos recomenda-se que a cada depósito de silagem, deve ser feita a aplicação do aditivo (realizado por meio de bombas de aplicação) após o nivelamento e antes da compactação destas camadas.
No silo de superfície, deve-se ter cuidado com o abaulamento da parte superior, afim de não possibilitar o acúmulo de água na parte de cima da lona, mas não deve ser excessivo. No silo trincheira o enchimento se faz de trás pra frente e a compactação é feita em um ângulo de 30 a 45 graus de inclinação, de forma que o fundo se encha primeiro que a frente formando uma rampa para o trator passar fazendo a compactação.
Após o enchimento, é preciso fazer uma boa vedação do silo, ficando totalmente vedado,impedindo a entrada de ar ou água no seu interior, vedando bem as laterais. Para os silos de trincheiras deve ser feito o enterrio das laterais da lona. A área onde ficarão os silos devem ser protegidas contra a entrada de animais que possam rasgar a lona e assim gerar perda de partes da silagem.
É recomendado o fechamento do silo até 12 horas como ideal, mas aceitável de 1-2 dias, não sendo recomendado ultrapassar esse tempo. Após todos esses processos, estima-se que o silo esteja pronto para uso após 30 dias, quando a fermentação já estiver finalizada. A silagem que não for aberta pode ser conservada por vários meses. Enquanto que, após aberta recomenda-se usá-la sem tampar a parte da frente para evitar acúmulo de umidade no local. Após a abertura ter cuidado para não deixar entrar ar na parte de cima, sendo recomendado o uso de uma linha de terra ou um peso para manter sempre a parte de cima bem vedada.
Tipos de aditivos
Os aditivos são substâncias adicionadas na silagem durante o processo de ensilagem Possuem a finalidade de reduzir perdas e estimular a fermentação desejável, além de enriquecer o valor nutritivo e melhorar a digestibilidade e a aceitabilidade da silagem.
Aditivos nutricionais/auxiliares de fermentação
- Ureia: Aumenta o valor de Nitrogênio na silagem, recomenda-se de 0,5% a 1% com distribuição uniforme.
- Melaço: Favorece a fermentação lática e melhora a aceitabilidade da silagem. Recomenda-se de 1-3% de adição para gramíneas e 4-5% para leguminosas, para melhor distribuição realizar diluição em água quente (7 partes de Melaço : 1 parte de Água quente), e para silagens com alta umidade utilizar melaço em pó.
- Polpa Cítrica: Alto incremento de valor energético. Recomendação de 4-15% do volume com distribuição uniforme.
- Milho desintegrado com palha e sabugo: Reduz a umidade e melhora a qualidade da silagem. Recomendação de 4-10% com distribuição uniforme.
- Farelos e casquinhas: Reduz a umidade e melhora a qualidade da silagem, recomendação de 4-10% com distribuição uniforme.
Aditivos estimulantes de fermentação
- Inoculantes enzimo-bacterianos: Serve para aumentar a digestibilidade da fibra da silagem, reduzir o tempo de fermentação, reduzir a perda de proteínas e energia, reduzir o nitrogênio amoniacal, e prolongar o tempo de conservação da silagem.
Inibidores da fermentação indesejável
- Pirossulfato de sódio (0,2-0,3%): Libera SO2 e bloqueia a respiração celular.
- Ácido fórmico (0,5-0,6%): Reduz o PH e inibe fermentações indesejáveis.
- Formol (0,3-0,4%): Bacteriostático + insolubilidade das proteínas.
Após seguir todos esses passos, certamente você terá uma silagem de muito boa qualidade e para ter certeza disso, é só tomar nota de alguns pontos, como:
- A boa aceitabilidade pelos animais;
- Ausência de odor acético ou amoníaco;
- Ausência de mofo;
- Temperatura próxima a do ambiente;
- Coloração verde clara ou amarelada (ou dependendo do alimento usado amarronzada como é o caso do sorgo).
Seguindo todos esses requisitos, com certeza, sua silagem terá ótimas condições nutricionais.
Quais as dicas que você mais gostou neste conteúdo? Acrescentou algo para você? Continue seguindo nosso Blog da JetBov que logo logo traremos mais informações para você. Que a alta lucratividade e alta produtividade esteja com você, nosso amigo produtor.
Referências:
Professor Manoel Eduardo Rozalino Santos.
Livro Forragicultura: Ciência, Tecnologia e Gestão dos Recursos Forrageiros.