A “carne” de Laboratório vai acabar com minha fazenda?

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Nas últimas semanas acompanhamos algumas notícias sobre empresas que estão recebendo aportes de milhões de dólares, prometendo que irão produzir “carne” em laboratório. Segundo o que está sendo noticiado, essa “carne sintética” terá o mesmo sabor que a carne de origem animal, e prometem com isso mudar toda uma cadeia produtiva.

É muito difícil prever como será a demanda de proteína devido ao consumo de carne estar muito atrelado à economia, porém a tendência é de que continue aumentando, principalmente por ainda estarmos longe dos patamares de consumo observados em muitos países.
Além disso, descobrir outras fontes de proteína é parte do desafio para que se tenha alimento de qualidade à toda população mundial, que não para de crescer (as estimativas são de 10 bilhões de pessoas no ano de 2050). Esse crescimento populacional faz com que cada vez mais exista a preocupação pelo aumento de produção de alimentos de maneira mais sustentável, eficiente e de menor impacto ambiental.

Mas duvido que essa invenção da “carne sintética” faça com que a Pecuária Tradicional deixe de existir. Vamos listar o por que:

1) Outras fontes de proteína, como as vegetais ou a carne em laboratório, precisam de tempo para tornar as tecnologias escaláveis. Por maior que seja o volume de dinheiro investido, existe o tempo de maturação. É como diz um velho ditado da pecuária: fazer com que o touro monte em 9 vacas não vai fazer o bezerro nascer em um mês.

2) As proteínas de origem não-animal passam por processos físico/químicos para acelerar o seu desenvolvimento e/ou se assemelhar ao gosto, aroma e textura da carne natural. Há um movimento cada vez maior no mercado por diminuir alimentos processados. Um produto assim iria na direção totalmente contrária. Em algum momento ele poderá alcançar um preço competitivo com a “carne normal”, mas não deixará de ser um produto rotulado como industrializado.

3) A tendência acima leva para outra consequência provável: produzir carne natural trará ao pecuarista um maior lucro. Cada vez mais o mercado exigirá diferenciação em qualidade, rastreabilidade, origem, sustentabilidade e de que é um produto o mais natural possível, prioritariamente para uma produção mais “verde”. No final do dia, a carne natural deverá ser vista cada vez menos como uma commodity e mais como um produto de alto valor agregado.

4) A pecuária vai muito além da produção de carne. O boi fornece matéria prima para uma  infinidade de produtos, desde vestuário a componentes-base para medicamentos e cosméticos. Até mesmo a carne de laboratório irá precisar de células-base de animais para seu processo acelerado, e os animais “doadores” precisam de um alto grau de controle e rastreabilidade. Então, quem quer fazer parte deste futuro na pecuária, precisará investir. Investir em tecnologia, em controles e rastreabilidade dos processos e principalmente em gestão.

Dessa forma, a pecuária nos moldes que foi criada, será cada vez mais uma atividade para quem faz uma gestão profissional de sua atividade. Mas a boa notícia é que tende a ser uma atividade mais rentável para aqueles que darem uma maior atenção para a gestão!

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