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Para falar sobre a IATF – Inseminação Artificial em Tempo Fixo, é importante saber que o uso de biotecnologias reprodutivas no Brasil tem sido um grande aliado frente à demanda pelo aumento de produtividade e busca por melhores indicadores reprodutivos com garantia de uma produção sustentável, importantes pilares frente ao potencial produtivo do país e ao cenário de demanda crescente pela produção de carne bovina.
Na pecuária extensiva, tradicionalmente não se adotava a estação de monta e o touro permanecia com as vacas durante o ano todo. Porém, atualmente as fazendas de cria não conseguem mais fechar a conta dessa forma.
Segundo dados da Associação Brasileira de Inseminação Artificial (ASBIA), no ano de 2019 foram comercializadas mais de 18 milhões de doses de sêmen no Brasil, o que representou um aumento de 18% quando comparado ao ano anterior, sendo este crescimento mais evidente nas raças de corte.
Os dados mais recentes, com relação ao primeiro semestre de 2020, apontam um crescimento de 47% na comercialização de doses de sêmen para raças de corte, o que demonstra a constante expansão do uso da IA e uma grande oportunidade para os profissionais.
Perspectivas do número de doses comercializadas e aumento da IATF de 2018 a 2028. Considerando uma taxa anual de 5% para as doses de sêmen e 6% para a IATF:
IATF: O que é importante saber?
A adoção da IATF na pecuária de corte exige atenção e cuidados em relação a alguns aspectos cruciais para que a fazenda obtenha sucesso reprodutivo. Neste sentido, é importante atentar-se para:
- Como ocorre a dinâmica hormonal;
- Qual protocolo utilizar;
- Cuidados antes de realizar a IATF;
- O impacto financeiro.
O que é, como funciona, e quais as vantagens e benefícios da IATF?
A IATF consiste na aplicação de fármacos para a modulação do ciclo estral das vacas, visando a indução para vacas em anestro ou sincronização do estro para vacas que estão em diferentes fases do ciclo. Com isso, ocorre a indução de uma ovulação em que todas as matrizes passam a apresentar pico ovulatório em um mesmo período e todo o manejo reprodutivo pode ser concentrado, diminuindo mão de obra com protocolos reprodutivos.
A Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF) permite ter melhores resultados desde o manejo até o retorno financeiro. Ela vem ganhando espaço em relação à monta natural e a Inseminação Artificial (IA) convencional, pois com o uso desta técnica, o produtor passa a deixar de lado a preocupação com a detecção de cio, e pode definir o dia da inseminação de acordo com o protocolo utilizado, fato este que leva ao aumento da taxa de prenhez logo no início da estação de monta, diminuindo o tempo de serviço e o IEP.
No ano de 2019 a IATF atingiu 87% das fêmeas inseminadas no Brasil, com um crescimento de 23,6 % comparado ao ano de 2018; e comercialização de 16,4 milhões de protocolos no Brasil (FMZ/ USP).
Com o uso da técnica é possível replicar a genética de qualidade, garantindo que a progênie tenha características que busca a melhora do rebanho, tais como precocidade, marmoreio, aptidão materna para novilhas, entre outras.
Quando se compara a IATF à monta natural, sem um protocolo farmacológico, a maioria das vacas encontra-se em anestro por um longo período, diminuindo a probabilidade de emprenhar com o touro, elevando o IEP e o tempo em que terá retorno com a atividade. Sendo a redução do IEP e a produção de um bezerro/vaca/ano uma vantagem.
Outro benefício importante é o planejamento das parições, que passam a ser concentradas em épocas onde há melhor oferta de alimento para as vacas recém paridas. Além disso, com o uso da IATF é observado o aumento dos bezerros do cedo, animais estes que costumam apresentar um desempenho superior e maior peso ao desmame.
Com os nascimentos concentrados, o produtor pode ainda criar o planejamento das vendas e receitas na fazenda. A base para o sucesso nos protocolos de IATF é o conhecimento da fisiologia reprodutiva da vaca. O ciclo estral possui duração média de 21 dias, e com base nos hormônios predominantes e estruturas presentes no ovário, pode ser dividido basicamente em duas fases: a fase folicular ou estrogênica, em que ocorre a regressão do corpo lúteo, queda de progesterona, formação do folículo e liberação de estrógeno. Ou a fase luteal ou progesterônica, em que ocorre a ovulação, aumento da progesterona e queda do estrógeno.
Como ocorre a dinâmica hormonal?
O controle hormonal é feito pelo eixo hipotálamo – hipófise, juntamente com o ovário e útero, onde são produzidos e secretados os hormônios responsáveis pela reprodução.
No hipotálamo é produzido o GnRH, que induz à hipófise produzir o FSH e LH, que atuam em sinergismo. O FSH é o hormônio responsável pelo recrutamento folicular no ovário. Os folículos são dependentes do FSH e com a atuação deste, ocorre o desenvolvimento de um folículo dominante, que adquire receptores para LH, e que secreta estrógeno e inibina. Este último, por meio de um feedback negativo, promove o estímulo da secreção de GnRH pelo hipotálamo.
O GnRH por sua vez irá estimular a secreção de LH pela hipófise, hormônio este responsável pela maturação folicular e ovulação. Com um pico de secreção de LH pela hipófise, combinada com a ação da prostaglandina, ocorre a ovulação.
O ponto chave no protocolo é atuar para que se consiga atingir este pico de LH que leve a ovulação, pois atualmente um dos gargalos quando se fala em manejo reprodutivo é a ineficiência reprodutiva provocada por anestro prolongado devido a baixos níveis de LH que não culminam com a ovulação.
Quanto maior os níveis sanguíneos de estrógeno, maiores os sinais de cio. A vaca ovula em média de 12h a 16h após o cio, então é possível programar a fertilização para este momento com base nas datas de aplicação dos fármacos.
Qual protocolo utilizar?
Quando falamos das possibilidades de protocolos disponíveis, não existe a famosa ‘receita de bolo’, pois cada fazenda é única e deve buscar o melhor para a sua realidade. Para a escolha do protocolo é necessário levar em consideração fatores como a categoria animal, pois o manejo será diferente quando se trata de primíparas, vacas paridas e multíparas. A condição corporal, o calendário de manejos e a mão de obra da fazenda também devem ser colocados em pauta.
Há protocolos de 3 manejos e 4 manejos e a maioria consiste na utilização de progesterona (P4), estradiol e prostaglandina ou GnRH e PGF2alfa.
No D0 o objetivo é que todos os animais entrem no mesmo dia do ciclo. É realizada a aplicação de um implante de liberação de progesterona, que atua bloqueando o pico de LH combinado com a aplicação intramuscular de benzoato de estradiol, que irá atuar no FSH.
A retirada pode ocorrer após 7, 8 ou 9 dias, e neste momento o foco é dar suporte para o pico de LH e induzir a ovulação. Em alguns protocolos é utilizada a prostaglandina combinada com GnRH e eCH. Se o protocolo é de 3 manejos, no mesmo dia aplica-se o cipionato de estradiol para indução da ovulação. Em protocolos de 4 manejos, após a retirada do implante espera-se 24h para utilização de benzoato de estradiol. Após a indução da ovulação é realizada a inseminação – D10.
Cuidados antes de realizar a IATF
Antes de implementar a IATF em sua fazenda é necessário conhecer as categorias de fêmeas em idade reprodutiva, pois cada uma possui uma exigência, realizar um bom planejamento e definir um calendário com os manejos, que antecedem a estação reprodutiva.
A fertilidade das fêmeas está intimamente relacionada à nutrição. Portanto, um ponto chave é o manejo nutricional das vacas que irão entrar no protocolo. Os animais devem estar bem nutridos e apresentar escore corporal adequado para que possam emprenhar e levar a gestação a termo. A subnutrição altera todo o eixo de controle da reprodução e, além disso, a manutenção reprodutiva é uma das últimas prioridades do animal.
O stress afeta diretamente o ciclo,então ,garantir o bem-estar animal é fundamental. Cuidados básicos como a qualidade da água, sombreamento, instalações adequadas e boas práticas de manejo podem fazer toda a diferença.
Atenção para o calendário sanitário em dia, pois manter atualizados o protocolo vacinal e a realização de exames anuais são de extrema importância para evitar doenças que causam perdas reprodutivas como aborto e reabsorção embrionária.
E não adiantará de nada garantir os cuidados com os animais, se não garantir os cuidados com os produtos e manejos durante o protocolo. Vale se atentar sempre às temperaturas de armazenamento adequadas para cada fármaco e as datas de validade. A limpeza das instalações e utilização correta de luvas para manipulação são fundamentais para o sucesso da técnica.
Do ponto de vista financeiro, vale a pena a IATF?
Muitos produtores resistem à implantação da técnica por conta dos custos, mas ao comprar um touro para a fazenda, devemos pensar na vida útil deste animal e em quantos bezerros irá produzir, além de todos os custos para a manutenção do animal na propriedade. Levando em conta o tamanho do rebanho, muitas vezes apenas um touro não é viável para a propriedade, elevando mais ainda o custo.
Então, quando comparados os custos com a aquisição do animal e sua manutenção, além dos retornos que podemos obter com a IATF, como o aumento da taxa de prenhez, aumento do peso dos bezerros desmamados e diminuição do IEP, o investimento é compensatório.
Estima-se com o uso da IATF, um incremento de 8% na produção de bezerros se comparada com a monta natural. Considerando o rebanho ativo de matrizes no Brasil em 2018 de 10,2 milhões, chegamos a um aumento de 816 mil bezerros adicionais/ano. (Baruseli et. al, 2018).
Quando falamos em ganho de produtividade dos animais nascidos no cedo, com a técnica IATF, um adicional de 20 kg de peso pode ser obtido na desmama e uma @ (15kg) na recria e engorda, diminuindo o ciclo produtivo e o retorno do investimento mais rápido.
Os custos dos protocolos são variáveis e, segundo dados do Senar em conjunto com o Cepea/USP, uma queda neste valor tem sido observada nos últimos anos. No mesmo estudo observou-se o valor médio de R$ 53,08 por protocolo, considerando 50% de taxa de prenhez em protocolos de 3 manejos, e o custo do bezerro produzido em R$ 106,17.
Entre uma das megatendências para a cadeia de carne até 2040 está o uso das biotecnologias, que tende a ser grande propulsora das transformações no mercado.
Somado ao cenário atual, em que a atividade de cria tem tudo para despontar, as fazendas que investem no uso tecnologias reprodutivas são ‘as meninas dos olhos’ dos recriadores que buscam pelos melhores bezerros, além de referência em replicação de boa genética, fatos que agregam valor ao produto fornecido.
*Fontes imagens:
Imagem gráfico 1: Baruseli, 2019;
Imagem gráfico 2: Embrapa;
Imagem gráfico 3: Revista Brasileira de Saúde e Produção Animal.
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